domingo, 15 de março de 2015

A ELE



A ELE


Era a idade lisonjeira
na qual é um sonho a vida:
era a aurora feiticeira
da juventude florida,
na satisfação primeira.

Quando sem rumo vagava
no campo mui silenciosa
e, escutando, me alegrava
com a rola que entoava
sua queixa lastimosa.

Melancólico fulgor
a branca lua esparzia
e a aura ligeira mexia
com sopro murmurador
a tenra flor que se abria.

E eu me alegrava! O rocio,
celeste lamentação,
o bosque denso e sombrio,
a tranqüila paz do chão,
o manso correr do rio,

e da luz da lua o alvor
e a aura que então murmurava
e ia acariciando a flor,
e o pássaro que cantava...
Tudo falava de amor!

E trêmula, palpitante,
no delírio extasiada,
tive uma visão brilhante,
como o ar aromatizada,
como as nuvens flutuante.

Ante mim resplandecia
qual um astro em seu fulgor,
e com louca fantasia
ao fantasma sedutor
tributada idolatria.

 Pensei ouvir seu acento
no canto daquelas aves;
auras eram seu alento
cheias de aromas suaves,
sua casa o firmamento.

Que ser estranho era aquele?
Anjo ou homem, qual então?
Deus, Lusbel, o nome dele?...
Como se chama a visão?
Ah! Chama-se...! Apenas Ele! [...]


GERTRUDIS GÓMEZ DE AVELLANEDA (1814-1873)
Tradução de Renata Cordeiro

5 comentários:

Giancarlo disse...

Gli auguri più sinceri per una Santa Pasqua lieta e serena!
Un abbraccio...ciao.

João Esteves disse...

Belos versos estes de que tomo conhecimento aqui, pela sua tradução.

meus instantes e momentos disse...

que bom voltar aqui...

Jaime Portela disse...

Gostei da sua tradução. Mas também gosto da sua poesia (já li muitos poemas seus).
Por isso, vou passar por aqui muitas vezes.
Saudações poéticas.

Ricardo e Regina Calmon disse...

Belos e intensos, versos esses!
Saudaes aussi!